O Homem Tranqüilo
O homem tranqüilo
Era poeira só,
a estrada serpenteava entre pastagens ressequidas,
vozes esquecidas pelo tempo
martelavam a cabeça do viajante.
Vez ou outra um pássaro emitia um piar solitário,
neste cenário seguiam aqueles pés
calejados, pobremente calçados
e rico de tantos caminhos viajados.
Nenhuma viv’alma naquele ermo,
naquela calma matutava o matuto
e era poeira só.
O silêncio, o caminho, ruínas de casebres,
uma natureza em luto.
O sol há muito tempo cruzara seu caminho
invertera sua sombra
que passara de tutelada a guia.
Na cabeça do maturo vagos pensamentos
de tantos caminhos iguais
e tantas paragens
paisagens que restavam na memória.
Sua história era aquele caminhar sem fim,
terras aradas, irrigadas com seu suor,
colheitas tantas e calos nas mãos
e nada, nada que fosse seu,
somente sua força bruta de homem do campo,
a liberdade nômade para qualquer trilha
e o sono pesado, de qualquer jeito, em qualquer leito
polida pedra preciosa
de uma consciência tranqüila.
Mauro Gouvêa