Mesa posta...

Quem me abrirá a porta quando soarem as trombetas, ou quando eu deliberadamente cerrar as cortinas ? O que estará atrás da pálida luz ? O fogo mágico? Ou o brilho trágico, que conta de ponta a ponta o rosário de infinitos ritos desafinados?

Levo nas mãos o fogo fátuo, tudo o que sobrou do meu delírio de vaidade consumada, a face lívida dos confessos desvarios e nas costas a bagagem de anos castos de apresentações historicamente amorais, bem como a carrada de atos banais condenados pela ferrenha castração.

Quanto dura ainda essa escalada desmedida de ecos e berros, esse assombro afiado que avança a noite ceifando o silêncio desejado?

Sobram horas e faltam minutos preciosos enquanto a mão balança a encosta íngreme que nunca vem a abaixo...

Quando a boca da noite se fechará atrás dos meus passos ou quando vai engolir meu último pedaço? Quando verei o paraíso ou onde continua o inferno que morde sorrisos e enfeia as palavras?

Não sei...não sei de quantos fragmentos precisa esse quebra cabeça para ser montado, quantos grãos de areia ainda cabem nesse lado da ampulheta...sei de quantas estrelas ainda brilham nessa nesga de céu que antevejo no escuro da minha retina, das poças que resfriam meus pés abrasados.

Quantas mesas porei até que anoiteça? Colherei orvalhos quando não puder caminhar? Farei perguntas às paredes ou ao silêncio que festeja comigo os minutos rasgados ?

Enquanto o arrepio das lembranças se esbarra no medo das visões, as páginas são viradas lentamente como se teimassem em nada revelar, além de rabiscos sinceros...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 10/04/2006
Código do texto: T136611
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