QUANDO CHEGAR A NOITE

Crepúsculo, sempre tu, sempre a ti

Sempre a me dizer, a me relatar

Bebericando com o sol casado

Noutras, tantas horas.

À aldrava foi bater de novo

Jeito fosco de dizer lamúrias

Sempre assim, lembre de mim

Não posso... é tarde!

Ate-me quando sobrevoar ilegítima gaivota

Gaste-me um pouco – já me bastei por muito

Há mais sol para onde este vai – há mais

Seja bom que o serei contigo (se lhe convier).

Crepúsculo, primo do desejo ao redor

Sempre tu de ti a me delatar

A me abrir como pusilânimes escadas

Não se preste sem o quinhão que lhe cabe!

Há mais verde donde brota a noite

Plácida, preciosa – em tons de violeta

Já não são tão meus os teus ossos vagos

É o ‘eu’ clonado a invadir e a desmerecer.

Ora, crepúsculo ensangüentado!

Rompa de vez com a noite podre – ela mia

Sem ti, ela não haverá; à falta dela, curar-se-á

Impoluta seja tua veste quando amanhã chegar.

Ter-se-á ido ao céu, oito vezes

Todas a receber o ósculo da estrela

Um dia, ater-se-á ao significado...

Quando chegar a noite, quando chegar a noite.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 14/01/2009
Reeditado em 17/01/2009
Código do texto: T1384806
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