QUANDO CHEGAR A NOITE
Crepúsculo, sempre tu, sempre a ti
Sempre a me dizer, a me relatar
Bebericando com o sol casado
Noutras, tantas horas.
À aldrava foi bater de novo
Jeito fosco de dizer lamúrias
Sempre assim, lembre de mim
Não posso... é tarde!
Ate-me quando sobrevoar ilegítima gaivota
Gaste-me um pouco – já me bastei por muito
Há mais sol para onde este vai – há mais
Seja bom que o serei contigo (se lhe convier).
Crepúsculo, primo do desejo ao redor
Sempre tu de ti a me delatar
A me abrir como pusilânimes escadas
Não se preste sem o quinhão que lhe cabe!
Há mais verde donde brota a noite
Plácida, preciosa – em tons de violeta
Já não são tão meus os teus ossos vagos
É o ‘eu’ clonado a invadir e a desmerecer.
Ora, crepúsculo ensangüentado!
Rompa de vez com a noite podre – ela mia
Sem ti, ela não haverá; à falta dela, curar-se-á
Impoluta seja tua veste quando amanhã chegar.
Ter-se-á ido ao céu, oito vezes
Todas a receber o ósculo da estrela
Um dia, ater-se-á ao significado...
Quando chegar a noite, quando chegar a noite.