QUANDO OS OLHOS NÃO VÊM, A VIDA MENTE

Houve um estrondo

E quando pisquei, não havia mais nada

Nem os céus, nem as caleches.

Só eu sei quão rápido passou

Fora como nuvens recheadas

Sobrei-me roto e ressequido.

Quando pisquei, minha nau arfou

Meus sonhos talharam

E minha alma persistia em vagar.

Não havia o mar, não seria a estrada

A me conduzir ao princípio

Não haveria princípio.

Apenas dor na cor e no pesar de uma imagem

Que as teias ocultam, que o ósculo abate

Sem primor, nem pudor; foi-se.

Não houve tanto amor a me deixar em pó

Respostas vinham como idas a cavalo

Remorsos não ostentei, mas, de quê?

Quando pisquei, tolheram-me a tez

O pensamento de vez, em vez de plantá-lo

Só não tive de renascer por dentro.

Não havia lado, não pendiam cristais

Uma rocha laboriosamente felpuda; nuanças, nuanças

Sem arestas fundidas em relicário mórbido.

Quando pisquei, minha vida findou

Nem sons ela tinha, mas que sons?

Imponentes e lágrimas tangentes.

Na hora do enterro, minhas pálpebras sorriam

Nem contavam com a felicidade vivida

Felicidade?

Ah, felicidade!

Modesta força que nos impele à vida

Impele-nos? Sim, pois a vida é rude e ingrata.

Sem calçado nem galocha, trouxe-me ódio a vida

Nem quando pisquei, pude sorvê-la

Mas, sorver o quê?

Quando descortinada estava

Frente aos meus cansados olhos

Movi outras tantas idéias.

Na missa de sétimo dia, ouvi cochicharem

- quando escrevia uma prosa qualquer –

“Esse viveu a vida que quis!”

Quando pisquei, a luz inda estava ali

O cálice desamparado fitava-me

Ludwig inda velava o meu sono.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 27/02/2009
Código do texto: T1460643
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