QUANDO OS OLHOS NÃO VÊM, A VIDA MENTE
Houve um estrondo
E quando pisquei, não havia mais nada
Nem os céus, nem as caleches.
Só eu sei quão rápido passou
Fora como nuvens recheadas
Sobrei-me roto e ressequido.
Quando pisquei, minha nau arfou
Meus sonhos talharam
E minha alma persistia em vagar.
Não havia o mar, não seria a estrada
A me conduzir ao princípio
Não haveria princípio.
Apenas dor na cor e no pesar de uma imagem
Que as teias ocultam, que o ósculo abate
Sem primor, nem pudor; foi-se.
Não houve tanto amor a me deixar em pó
Respostas vinham como idas a cavalo
Remorsos não ostentei, mas, de quê?
Quando pisquei, tolheram-me a tez
O pensamento de vez, em vez de plantá-lo
Só não tive de renascer por dentro.
Não havia lado, não pendiam cristais
Uma rocha laboriosamente felpuda; nuanças, nuanças
Sem arestas fundidas em relicário mórbido.
Quando pisquei, minha vida findou
Nem sons ela tinha, mas que sons?
Imponentes e lágrimas tangentes.
Na hora do enterro, minhas pálpebras sorriam
Nem contavam com a felicidade vivida
Felicidade?
Ah, felicidade!
Modesta força que nos impele à vida
Impele-nos? Sim, pois a vida é rude e ingrata.
Sem calçado nem galocha, trouxe-me ódio a vida
Nem quando pisquei, pude sorvê-la
Mas, sorver o quê?
Quando descortinada estava
Frente aos meus cansados olhos
Movi outras tantas idéias.
Na missa de sétimo dia, ouvi cochicharem
- quando escrevia uma prosa qualquer –
“Esse viveu a vida que quis!”
Quando pisquei, a luz inda estava ali
O cálice desamparado fitava-me
Ludwig inda velava o meu sono.