Em preto e branco
Somado aos anos, foram se acumulando umas gordurinhas aqui, outras ali, rugas de vários tamanhos, marcas de diversos formatos e manchas de tonalidades diferentes, tudo devidamente embalado em decepções, desilusões tantas, com nós apertados de tristezas
e detalhes de vastos enganos dependurados...
Um pacote difícil de ser aberto, boiando quase ao acaso, sem tempo definido, sem direção
num rio sem fim de choros engasgados, na certeza única de onde desaguar...
Mágoa? Depressão? Não, realidade espantada de quem acorda quase no apagar das luzes e sente o frio penetrante do espelho, o vento gelado do inverno atravessando por todos os vãos como água em embarcação à pique...
Não sobra muito, só acalentará a alma os tesouros que nela foram acumulados, porque já não enfeita mais as floreiras da janela o riso doce, nem o vento lambe a pele com a mesma leveza...
De preto e branco tinge-se o filme que corre célere e sem a mesma platéia atenta...
O calendário é desfolhado sem novidades para um porta retrato que guarda, amarelando, um riso tolo de quem passou...