"Cabôclo"

_ Sô um cabôclo num tá vêno? Num tá vêno esse meu jeito diferente? Esse meu jeito humirde de falá?

É que eu sou caipira, homi matuto lá da roça, sô romêro devoto de Jesus Cristo e Nossa Senhora, moro numa casinha singela na beira do rio, feita de pau-a-pique sim, mas feita com muito carinho.

Falo uai, falo ocê mas num me avergonho disso não, sô peão amansadô de burro brabo, carrêro daqueles dos bão, sô retirêro das madrugada, vaquêro que gosta daquilo que faiz!

Levo a viola nos braços! Pois gosto de caminhá cantâno! Gosto de tomá cachaça! De inrolá meu pito de páia, gosto de um rabo de saia e também não fujo de um rabo de arraiá!

Touro brabo eu pego é na unha! Cavalo eu pego é no laço!

Já campeei muita vaca leiteira por este sertão afora, fiz muita cêrca! Muitas tronqueiras!

Labutei muito nesta vida sofrida da roça! Mais sô cabôclo num tá veno? Veja os calos nas minhas mãos! São duras como cerne de aroeira ou jacarandá, mais tenho o coração mole, num nego nada pra ninguém, sô pobre mais sô honesto!

Num conheço governador, nem presidente, só sei que moro no Brasil, pois bão, isso pra mim é o que importa.

Sei que o que planto muitas vezesnão dá lucro mas ajuda o povo da cidade a vivê.

E assim vou levâno essa vida, humirde, sofrida!

Belchior Contins
Enviado por Belchior Contins em 20/05/2006
Código do texto: T159791