TÃO TERRA QUANTO A TERRA

Acordo pela manhã, o sol nasce por entre os prédios frios, o berrante soa perto e está tão longe, sinto o cheiro do gado, o pássaro canta bem alto e afinado do centro de sua gaiola, é a roça ainda orvalhada que dita o rumo dessa caminhada. Eu sou peão que me acorro ao sonho e vivo minha realidade.
Visto meu terno e as botas de couro, de posse do meu carro, os cavalos de força que a força me desgarro e sigo a dirigir. Na contramão dos meus desejos eu vejo o sorriso da moça, uma sinhazinha da cidade que por pura maldade não me olha. Continuo cavalgando meus sonhos entre o passado e a sina, sou triste endinheirado entre o banco e a janela nas alturas, lá nenhuma ventura que me leva a aventura de andar descalço, como transformar esse vazio que a terra e o mato me deixa, como enfeitar o asfalto com uma flor caída que o vento enfeita? Se me deito cansado e preguiçoso vejo uma lua entre paredes, mas não creio que as luzes da cidade sejam estrelas de poesia, nem os jardins cercados de ferro um poema da modernidade. Mas são lembranças que insisto em transformar em saudades. Fui do campo como sou da cidade, entre um e outro o tempo, sou do campo vivendo a cidade, sou um homem que sonha. Certo é que serei tão terra quanto a terra que um dia arei.

Jose Carlos Cavalcante
Enviado por Jose Carlos Cavalcante em 30/05/2009
Reeditado em 15/06/2009
Código do texto: T1623629
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