Noite de Sábado

Ter a exata noção de que eu poderia estar agora num bar, sozinho ou com um amigo. De que poderia estar querendo a presença de uma amiga, logo depois namorada. De que poderia estar numa festa, a minha presença sendo notada, mesmo por quem não a desejasse ou fizesse questão. De que poderia estar numa condução em direção ao centro da cidade. De que poderia estar fora de idade pra me dirigir a um determinado show de rock. Se fosse de samba, até que daria. De que não poderia mexer com uma menina mais nova, porque ela faria aquela cara de raivinha ou quem sabe de nojo. De que poderia estar trabalhando, mesmo a essa hora da noite, como coveiro em um cemitério. Ou limpando os bueiros da cidade. Ou somando cheques num banco. Nem sei se serviço de compensação ainda existe.

Mas nada disso é verdade. Sobra apenas a vaidade de estar aqui com ela. Com tantas brigas como aquela, em que não atendeu o meu telefonema o dia todo. Ou quando disse que não tínhamos nada a ver. E eu, vaidoso, argúi que tinha de ser assim mesmo, já que estávamos a tanto tempo juntos. Que isso acontecia com todo casal.

E que tal? Ainda agora ela deixou a televisão na sala, entrou no quarto e me deu um beijo e um sorriso. Agora que estamos nessa noite de sábado, cedo ainda – 22h –, sozinhos nessa casinha aqui. Meio perdidos, meio afastados da cidade, mas perfeitamente achados um com o outro, não sentido os dois a mínima falta do que possa estar ocorrendo por muitos cantos da cidade ou casas de amigos ou boates, cinemas, festas, sei lá o quê. Sabe o que é prazer?

Maricá, 22/08/2009

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 22/08/2009
Reeditado em 21/03/2010
Código do texto: T1768878
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