Solidão a dois; de dia sinto frio, de noite penso em suicídio.

A poeira no entalhe dos móveis fazia ranger de solidão as portas da alma, nela perdiam-se horas inteiras de silêncio. Doía sentir sua acomodação, seu desenho intacto resguardado numa espera sem fim.

Nem o tique-taque contínuo do carrilhão da sala balançava a esperança antiga e adormecida, tudo jazia sem vida naquele dia que nunca terminou.

Olhei ao redor e nada se movia, olhei para dentro de mim e um reboliço de desejos não se calava. Ao sabor dos meus cadenciados passos bebi a solidão que se derramava em mim; foram anos de brindes sinceros de mim para comigo, foram dias e mais dias de porre ...

Ali estava eu olhando para as marcas que se perpetravam no ambiente, sem entender como foram se acomodando silentes, mesmo quando a vida pululava nas horas.

Fui a minha mais fiel companhia nos últimos anos; sorri e gargalhei para o meu reflexo, chorei muitas vezes no meu ombro afagada pelas minhas mãos, xinguei e briguei pela minha teimosia, fiquei de mal comigo inúmeras vezes e por dias sem fim nem me olhei de tanta mágoa, e agora nem um murmúrio sequer denotava minha presença.

Parada diante da eternidade olho e não me encontro, talvez minha voz tenha se calado no eco sem resposta ou meu eu assumido meu alter ego para se mudar além de mim, somente assim a vida pode se manter jorrando nas minhas veias.

É hora de fechar algumas portas para não ouvir rangidos e abrir todas as janelas que apontam para o infinito, a vida continua lá em algum lugar.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 08/07/2006
Código do texto: T190218
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