Distantes Tormentas

Eis que um pássaro se propôs a voar, recordar os anos em que se projetava tão alto quanto conseguia suportar. Já não se lembrava mais da sensação de romper as nuvens, fazendo suspirar aqueles mais jovens, ainda informes para este desafio suportar.

Já não há motivos para tentar, buscar lugares incertos, momentos singelos quando gotículas penetradas pelos luminosos raios do inverno, projetam um espetáculo que poucos podem de tão perto apreciar.

Mas um dia, movido pela violenta tempestade que a todos atormentava nos ares, pôs-se a voar rapidamente com os milhares.

Em poucos segundos, inúmeros pássaros projetaram-se ao ar, fugindo da tempestade, que a alguns abateu sem piedade.

Grandes e velhos, jovens e pequenos se misturaram à textura das nuvens, e abatidos pelos fortes ventos, algumas vezes perdiam a noção do espaço e do tempo, esbarrando-se uns nos outros, amedrontados pelo zunido característico das tormentas.

Então, aquele pássaro que por necessidade voltou a voar bravamente, avistou ao longe um jovem que de todos se afastava lentamente, ainda com as asas frágeis e a respiração ofegante, sentindo a morte se aproximar.

Mas os outros pássaros, impelidos pelo instinto de sobrevivência, diante de tão grave tormenta esforçavam-se apenas para se aproximar cada vez mais das estrelas.

Por um breve momento, aquele pássaro ansiou a mesma segurança tão desejada por todos, mas lembrando-se de um dia em que, afastando-se da segurança do lar começou a despencar, foi corajosamente salvo por sua irmã mais jovem que ao abismo se projetou para salvá-lo, rendeu-se àquela poderosa imagem de um anjo vindo em sua direção, e ao abismo também se atirou sem hesitar.

Mas tantos eram os fugitivos, que ao descerem eram inevitáveis os conflitos, feridas resultantes dos violentos encontros pelo caminho.

E ambos em violenta queda, ao saírem daquela nuvem de empecilhos foram confrontados pela visão do abismo cada vez mais próximo, mas esforçando-se ao máximo, aquele corajoso pássaro a uma velocidade alucinante agarrou o indefeso filhote, já próximo às encostas, onde altas ondas bradavam sem parar.

Ao se distanciarem do abismo, agora ambos precisavam reencontrar os demais nas alturas, em migração acima das nuvens, onde uma mãe em prantos com seu inigualável amor ainda acreditava que seu querido filho um dia iria reencontrar.

[Dedico este texto à minha amiga Núbia: leitora dedicada, profissional de sucesso, mulher inteligente, especial e que faz a diferença!]

Álex
Enviado por Álex em 22/12/2009
Reeditado em 26/11/2012
Código do texto: T1990136
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