A última batida...
 

Toc...

Como uma leve batida na porta. Batida com mãos pequenas e macias de criança.

Foi o último som que ele ouviu.

Toc...

Não se repetiu.

Lá fora a cidade se agita.. Rodas freando e acelerando. Pneus cantando. Buzinas e sirenes. Alguém  com pressa para apagar um incêndio. Ou tirar um gato  da árvore. Alguém talvez estivesse morrendo. Um guarda apitando como se regesse uma sinfonia. Mas ele não ouviu. Mais nada, depois do último toc..
.

Ninguém ouviu também esse último toc... Só ele.O que poderia ser esse toc que ninguém mais ouviu, nem deu importância?

Vida. É o que havia lá em baixo. Pessoas caminhando em um ir e vir constante. Entrando e saindo. Se esbarrando, se tocando. Um bando de colegiais como álacres pássaros. Casais namorando, crianças embirrando. Um cão vadio perdido entre os sons.

Era manhã ou era o entardecer? O pálido raio de sol que entrava por uma fresta da cortina entre aberta nada definia.

Toc...
 
O eco dessa estranha batida que ouvira retomava ao seu pensamento que não mais pensava. Quis virar-se para o canto e continuar a dormir e esse desejo lhe disse que era hora de se levantar, tinha que ir a algum lugar. Mas que lugar? O sono tinha sido interrompido, um sono sem sonhos, mas ele não conseguia se mexer.

E a vida continuou porque a vida continua mesmo quando um coração solitário deixa de bater.
Um a mais, um a menos. Que diferença iria fazer?


 
Maria Olímpia Alves de Melo
Lavras, 19 de janeiro de 2010 –