o tempo

E passou, o tempo. A quantidade de dias insondáveis por trás desse cansaço, por trás da rotina, agora bem forjada pelos aprendizados mais duros. O desamor vencido, a dissimulação na tez de quem hoje finge saber viver muito bem mais leve e sem aquele desapegado colo.

Não que fosse tão desapegado assim, mas a possibilidade de sê-lo e, o castanho dos olhos naquela tarde opaca de uma praça enferrujada de subúrbio, me clareou alguns instantes e eu, achando que vida não traria mais nenhuma excitação juvenil, desci direto pelo tubo da minha auto-suficiência. Fui atrás daquilo que escorria de dentro, como inseto atraído pelo foco luminoso.

Parecia que toda aquela massa disforme, aquela composição desgovernada que era eu naquele ano insone, finalmente experimentava a sensação de por os pés em terra e flor. Mas ainda não era hora.

Depois veio o tempo. O tempo. ensinou-me que o tempo, embora passe amaciando tudo como rolo compressor, nunca será capaz de minar essas trilhas vermelhas que sobrevivem lá no fundo. Elas que fazem querer viver de novo a epifania de um encontro bonito como aquele.

Jan Morais
Enviado por Jan Morais em 22/01/2010
Código do texto: T2044514
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