O CATRE DO PRETÉRITO
Não pude escutar o silêncio
Amputava tais dedos de chumbo
Não escutei a chuva que morria, mansinha
Não pude duvidar do fel o olor... respondeu-me com ojerizas.
Só o instante se pôs a bisbilhotar no escuro
Enquanto frases maleitosas exalavam, ao léu
Levados e ininterruptos suspiros açoitavam-nos
Não pude estender o lençol... dei-me o engodo e a miséria – tons de bemol.
Perante árida alma na epopéia dum tom
Desvirginei pensamento reentrante... e sorvi
Não pude contar as borbulhas a exsudar da boca plácida
Esperei pelo agílimo sapo – a condensar o gozo na calça translúcida.
Não pude rever a hora exata do quântico fato
Escravos - donos de nós - ousavam em minha lapela
Fiz nenhuma questão de ser princípio
Já havia concluído; já havia deitado no catre do pretérito.