O fim do teatro

O que mais me aborrece não é saber que não correspondo ás tuas expectativas, mas sim saber que já não esperas nada de mim. Parece-me que todo o teu horizonte se resume a um único foco, alguém a quem chamas “amor”. As luzes que te iluminam vão perdendo a força e a direcção. As cadeiras se dobram e deixam os lugares vazios. A pouco e pouco o público regressa a casa. Ficam apenas os actores. Quem pagou bilhete sai desiludido, quem não pagou faz questão de deixar gorjeta. Eu sou forreta, e para que ninguém saiba, vou ficar mais um pouco, até ao fim. Estou decidido. Por outro lado, já não há nada para ver. A luz se confunde com a escuridão. O silencio com os teus risos. Fico á escuta. Fecho os olhos. Oiço os teus passos. Passos que dás para cá. Já sinto o teu perfume. O teu cheiro. A cadeira se desdobra. A do lado. E lá te sentas. O silêncio se confunde com a escuridão. Mas o calor no toque gentil da tua mão me faz sorrir. Que conforto sentir-te perto. Mas o tom da tua voz me deixou desperto. E desperto me afastei apalpando os degraus. De olhos bem abertos tento ver o que me resta. Se foi pouco ou muito nem eu sei. Tudo o que eu tinha lá deixei. Se foi gorjeta ou não, tão pouco interessa.

TrabisDeMentia
Enviado por TrabisDeMentia em 17/08/2006
Código do texto: T218791