As brumas da Amazônia

Na linha de um horizonte cinzento, pode-se ver o contorno tênue das árvores seculares que seguem resistindo à implacável ganância do homem. É uma imagem sombria demais para uma manhã de primavera. O sol, como a querer cobrir de cores a cena, é incapaz de vencer a densa bruma que das queimadas emerge, e apenas se faz notar, timidamente, como mero coadjuvante. O ar está pesado, marcado pelo cheiro acre da fumaça tóxica que a tudo envolve; os olhos ardem, e o coração bate mais forte, para suprir o corpo do oxigênio vital rarefeito pela insensatez humana.

Penso nos meus filhos, e em todos os descendentes das próximas gerações. Que imagem irão ver, ao contemplar, no futuro, aquele mesmo horizonte? - A mesma bruma? O mesmo contorno daquelas árvores tão majestosas? O mesmo sol encoberto?... Provavelmente, não, pois imagino que não haverá mais a bruma, simplesmente porque não haverá mais árvores para queimar. E o sol finalmente se mostrará com toda sua força, brilhante, causticante, e então reinará absoluto, quem sabe até como a querer iluminar o passado em busca do verde que havia, das flores extintas, da vida de outrora - que, apesar da bruma, era companhia certa nas manhãs de todas as estações.

Esse foi o pensamento que esteve comigo na manhã de hoje, enquanto eu percorria o trecho de estrada entre minha casa e meu trabalho, como faço quase todos os dias. Pensamento que ainda reverbera em minha mente, e que me leva a escrever estas palavras, para mim tão urgentes, como se eu fosse porta-voz daquelas árvores que, sufocadas pela densa bruma produzida pela mão do homem, parecem implorar por socorro – por suas vidas, pela vida de todos nós!...