olho-me nos olhos do tempo...

olho-me nos olhos do tempo, vejo-o em cada ruga e penso:

como ele passou...

como se distancia a memória de tudo o que vivi...

inundo-me de melancolia e afogado em tristeza sinto-me como se fosse um canto de saudade sobre o tumulo de orfeu...

não sei como resisti ao tormento da insónia e sobrevivi a noites imensas de combate às lembranças...

...lembranças que são como um tropel de faunos que nos esmaga o peito na mais terrivel desesperação...

são elas que guardam as nossas histórias, esse emaranhado de capítulos que fariam as delicias de qualquer trovador...

...de qualquer forma continuo amealhando factos vivendo entre sentinelas de espiritos que agitam o preconceito no mundo de hipotéticas liberdades...

liberdades que se acham no rasto da história, depois de longos anos oprimidas pelo silêncio...

olho-me nos olhos do tempo cegando o passado com olhos do presente...

...até que o presente se olhe com olhos do futuro...