Parte 2
A pressão externa pelos direitos poéticos a cada dia são mais intensos. Não sei como descobriram que mantenho poemas presos dentro da gaveta. Eu os trato bem. Dou de vez em quando a eles alguma palavra de animo, incentivo–os dizendo que em breve estarão nos livros por todo o mundo. Mas advirto que devem esquecer esta idéia estapafúrdia de que sou poeta. Eu não sou poeta e ponto final.
O fato virou noticia da hora em todos os noticiários. Homem mantém poemas presos por mais de uma década dentro de uma gaveta. A pergunta que todos querem saber é porque os poemas estão presos. Qual o crime que cometeram.
De repente começou a chegar diversas viaturas com policiais e que num instante cercaram a casa.juntou uma multidão saída sei la de onde, e começaram a gritar palavras de ordem na frente da casa- Liberdade Para Os Poemas/ Liberdade Para Os Poemas. Um outro cartaz da A.L.L.P. “associação da livre Literatura Poética”, conclamava a imediata libertação dos poemas sob a alegação de uma intervenção dos poderes locais, nacionais, federais e ate internacionais, se fosse necessário.
Queria saber como foi que descobriram sobre os poemas presos. Eu não contei para ninguém. E as pessoas que vieram aqui em casa nunca viram os poemas presos. Maldita mídia! Foi só noticiar sobre os poemas presos que já deu esta confusão toda. O telefone toca e do outro lado da linha uma voz suave de um homem que se dizia negociador e pedia pa que eu mantivesse a calma e tudo seria resolvido. Eu não entendi o que seria resolvido. Disse a ele que não havia nada para ser resolvido. Ele disse que eu só tinha que libertar os reféns e que nada de mal iria me acontecer. Questionei sobre o que ele, ou o resto do mundo tinham a ver com os meus poemas. Eles foram escritos por mim, eu era o dono deles, podia fazer com eles o que bem entendesse. Podia ate rasga-los se eu quisesse, e pensando bem, era o que devia ter feito desde o inicio. A voz ao telefone argumentou que os poemas, assim como os nossos filhos, não nos pertencem completamente, um dia seguirão seus próprios caminhos mundo a fora.
Agora aos olhos do mundo eu era um poeta louco e perigoso e ainda tinha que escutar um papo psicológico barato de alguém que não me conhecia. A turba la fora queria ver sangue,o meu sangue, eles só queriam ver o circo pegar fogo.


Adão Jorge dos Santos
Enviado por Adão Jorge dos Santos em 26/09/2006
Reeditado em 26/09/2006
Código do texto: T249554