Poetas de todo o mundo, uní-vos!

Algumas palavras: poucos se dão conta do dia de hoje. Para os desavisados, 20 de outubro pode até ser uma data como outra qualquer; mas para nós que temos por missão a palavra (especificamente a palavra no seu estado poético), o dia de hoje é especial porque uma alma sensível proclamou o 20 de outubro para não esquecermos a força da poesia. Há tantos nomes de poetas que eu gostaria de citar aqui... há uma infinidade. E toda vez que me vem o desejo de recitar um poema, penso logo no grande poema intitulado Motivo, de Cecília Meireles. Eis o motivo que me leva a destacar alguns de seus versos. Outro poema que me encanta é Retrato e mais um tanto de versos vindos da alma de Cecília, a exemplo de Timidez. Quem não gostaria de ter escrito esses versos? Então, para o dia de hoje, para tdos(as) nós que desejamos megulhar no mar da escrita, espero que o espírito poético sempre nos acolha. Viva Cecília! Viva a poesia, sempre! Saudações literárias, Graça Graúna.

***

MOTIVO

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

- não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

- mais nada.

(Cecília Meireles)

***RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazios,

nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coração

que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

tão simples, tão certa, tão fácil:

- Em que espelho ficou perdida a minha face?

(Cecília Meireles)

***

TIMIDEZ

Basta-me um pequeno gesto,

feito de longe e de leve,

para que venhas comigo

e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída

das montanhas dos instantes

desmancha todos os mares

e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,

entre os ventos taciturnos,

apago meus pensamentos,

ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,

os mundos vão navegando

nos ares certos do tempo,

até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.

(Cecília Meireles)

graça graúna
Enviado por graça graúna em 20/10/2010
Reeditado em 20/10/2010
Código do texto: T2568550
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