15 Passos.

eu dei pra ela um amor que eu não tinha.

eu sei, eu sei como. eu sei que não podia tanto quanto devia.

eu sei. mas mesmo assim eu dei.

eu dei por que sei que ela precisava mais que eu.

eu sei que não havia, por isso inventei.

mas isso não se pode chamar de mentira, porque é verdade.

e verdade por verdade...só depende de quem acredita.

eu acreditei.

eu acreditei nos olhos, e perdi a fé.

acreditei na matéria, na ciência.

eu peguei a pá, desandei a pé.

duvidei do destino, perdi a paciência.

doei tudo que tinha, abri minhas gavetas

revirei os armários, os meus bolsos

escondi meus cadernos, ignorei meu passado

e preenchi o mundo dela.

o meu esvaziei.

e no meu vazio, a cheia dela me inundava.

passaram-se carnavais

sua luz de lua crescente me cegava.

apagavam-se os sinais

minha estrela distante quase não brilhava.

mais, mais, mais, mas

me sentia minguando...e de tão leve e entorpecido

parecia que flutuava.

cheguei a estratosfera

vi o planeta nascer

o sol raiar

a noite cair

e o ciclo recomeçar

mas aí começou

começou a faltar ar

então sua voz era apenas um grito

violento, imperativo

parecia que queria me ferir

me isolar

me banir, me bater

me impedir de querer

eu só queria, eu só queria você

eu só queria morrer (como pude terminar onde comecei?)

ou então acordar (como pude terminar onde eu errei?)

você nunca quis perder, mas não soube como ganhar

mas era só a queda, a minha queda.

o voo inevitável rumo ao eu que ignorei.

o mergulho. meu inexorável retorno ao que

jamais deixei de ser. é, eu voltei.

eu. aquele. que. não. consegue. viver. dando. amor.

sem. receber. um pouco. ao menos. de. calor.

então finalmente o seu fio desenrolou.

rompeu-se o velho e mórbido silêncio.

e o frio me despertou, o apetite de algo que não seja sem sabor.

o gosto pelas velhas e boas e doces palavras. os vinhos e a música.

a curiosidade em sentir de novo o que pode ser o amor.

você tem fatos para o que quer que seja.

a licença poética de ligar as 3 am pra investigar a distância

que você mesma criou entre o que você faz e o que deseja

o que eu faço longe da tua corrente

ou que maré é essa que me arrasta pelo rio

e faz querer me deixar levar pela correnteza.

mas eu não tirarei meus olhos da bola novamente

eu não quero mais as certezas nem as celas

você sempre me enrola e depois corta o fio.

eu já não vejo mais beleza nesse meu sacrifício

eu já te dei vida, pequena, um novo solstício

e não quero mais esse stand-by, não quero mais

precisar de airbags a cada conversa

não quero mais olhar teus olhos parados tentando me parar

como se fossem braços, eu estou indo embora, amor

só mais 15 passos.