O que Antoine não sabia - Parte 2

Que a terra dos céus seja leve pra você.

Um dia, Antoine descobriu como Deus juntava as almas.

Não fazia isso pensando em afinidade, compatibilidade, coisas assim.

Deus juntava almas antevendo o que resultaria desta união. Entenda-se por isso os filhos, principalmente. Isso vale para filhos biológicos ou gerados por outros ventres. O importante não é a gestação, mas o que se sucederá ao longo da vida desta criatura, no calor doméstico em que formarão seus galhos, raízes, flores e frutos.

Acontece que algumas novas almas previsariam ser produzidas e isso só viria a ocorrer se determinadas almas se acasalassem.

"Está bem, se Deus tem o poder de tudo, ele não poderia simplesmente produzir estas tais almas?", indagou Antoine.

Por mais ilógico que possa parecer, Deus também tem suas limitações. E, acredite, estas limitações foram criadas por Ele para Si próprio (ou Si própria, por que não?). Ao se "auto-cabrestar", Deus está na verdade monitorando o seu próprio ato de criação.

Isso foge do livre arbítrio que supostamente teríamos para decidir o que faríamos da vida. Algumas situações acabam caindo no nosso colo de um jeito tão inocente, tão "como quem não quer nada" que acabamos nem desconfiando desta cilada do destino.

As almas que se amarram umas nas outras sem pena e sem olhar pra trás, vão se fundindo numa massa única, deixam de ser almas para se tornarem uma fronha única, fragmentos do mesmo sonho, dentes da mesma mordida.

Antoine sentiu na pele que as coisas acontecem assim mesmo.

E quando olha pros seus filhos, percebe que os sangue deles percorre veias que nem sempre estavam no caminho delas. Acabam se enfurnando por outros confins, desbravando pedaços de carne que até então se mantinham calados, cravados em si mesmos.

(continua)

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 01/04/2011
Código do texto: T2882936
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