O Piquiazeiro

Novembro de 2006


De um a um,
Vieram ao Piquiazeiro.
Convidei o Evaristo
Pra fazer espera na madrugada
Mas ele não deu conta
Disse a mim que um urro medonho
Fez-se presente
Fez-se sua pele branca
E pôs-se a correr.

Chamei o Alencar
Pra fazer a espera
Mas o danado se esquivou
Disse que da última vez
Chegou perto do Piquiazeiro
E a Matinta-pereira assobiou
Bem no seu ouvido
E nem tabaco o peste tinha naquela hora
E ficou assim a perambular a procura
De uma velha que nem conhecia

Indiquei o Sabá
Mas o filho duma égua se cagou todo
Disse a mim que tava no Piquiazeiro
Mas uma visagem meteu-lhe porrada
Na sua cara
No seu couro
E saiu em disparada pelo meio das mumbacas
Dando cabeçada
Até hoje na vida

Trouxe o Zé Moraes
E o sacana morreu
Disseram que foi do coração
Pois viu um não-sei-o-que pela frente
Lá no Piquiazeiro
Como sempre à noite
A noite dos que vagam
Como o Zé Moraes agora

E esse tal Calixto?
Chamei pro Piquiazeiro
Ele foi
Disse pra ele montar espera
Ele foi
Disse pra montar dormida lá no alto da galhada
Ele foi
Botei tudo que é tipo de barulho pro cabra
Ele dormiu
E só acordou pra atirar na paca que passeava por ali

De manhã tive que chamá-lo no ouvido
Toma teu pote de ouro
Que pote?
Aquele guardado no pé do Piquiazeiro
Ele pegou o pote e se foi como veio
Calmamente
E minha alma enfim, ficou descansada
Descansada.


(de uma estória a mim contada por Miguel, lá de Portel).

Imagem: Eron Teixeira