PONTES

PONTES

Pontes sem rio as pontes sem margens os rios e as fontes dispersas pelas correntes atiradas no outono e logo achadas em ruas desertas por onde vagueiam os absurdos enraizados em sobretudos cinzentos tecidos em tumultuosas malhas apertadas em torno dos artelhos eu acho que te vi lá fora abrias um guarda chuva vermelho que não conseguia tapar-te o brilho de um certo verde pendurado como faixa transparente na corrente líquida do teu olhar puro estavas de costas porém por cima dos cabelos ostentavas uma espécie de coroa e eu não soube dizer se era de rei ou de palhaço porque quando olhei de novo já não estavas lá e apenas um rasto logo disperso no riacho turbulento dos mananciais tempestuosos de um inverno precoce me mostraram os passos que por ali deixaste e no entanto sempre gostei de pontes de espreitar o rio de pensar atirar-me nas águas fundas não querendo fazê-lo mas procurando entender a emergência dessa espécie de voo absurdo rumo a um leito sem foz mas sempre que por debaixo desses lanços de pedra que aproximam vazios não se derrama um poderoso escorregar de águas profundas é como se o sentido houvesse de perder-se para sempre

Regina Sardoeira
Enviado por Regina Sardoeira em 06/12/2006
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