*Emoções*_Solidão_

Como dói a solidão! É um arrancar perene das nossas emoções, dos nossos castelos, dos nossos corações. É como tentar driblar as saudades, os aconchegos que outrora nos animavam e abraçavam. É é a constância daquela pedra ferina que corta nossa imaginação, que despedaça os ricos anseios da vida que nos encantava, catapultando todas os sonhares, todas as esperanças, todos nossos amares.

Solidão é o perfume já diluido das nossas recordações, empurrando-nos para o vácuo das incertezas e dos queixumes, pois somos nada em comparação com o mundo que já nos amparou e que conhecemos e do qual fazíamos parte. Ao nos situarmos nesse mesmo mundo, vemos e não vemos mais nada, nem vida mais, nem mesmo o fim de estrada.

Sentirmos solidão é como não termos sombra, alma e sentimento, porque estamos a sós conosco mesmo, alheios à vida que nos cerca e às pessoas que existem ao nosso redor. Muitas vezes sentimos solidão cercados de vida e de multidão, mas conosco mesmo existe o vazio, o abismo que nos leva à condição de pedintes de ajuda e de socorro.

Imploramos que haja um oásis, mesmo o mais singelo de todos, que possa nos fornecer a água que nos sacie a sede de uma companhia, de um braço amigo que nos abrace, de uns lábios que saibam sussurrar frases de estímulo, de chão para nossos pesadelos, de ânimo para nossos desassossegos.

E, nos sem-rumo de nossas embarcações, sentimo-nos sozinhos, na imensidão de nossos medos, no vazio da solidão dos nossos desatinos, na pequenez de nossas esperanças, então vêm as saudades de tudo, do nada e das nossas imaginações férteis que, febrilmente, buscamos para não estarmos assim tão soltos, tão nús de alma e de coração.

Solidão é um estado de sermos sós, de estarmos à deriva da vida, das pessoas, dos acontecimentos, dos prazeres do amor, da vida que nos envolve, ancorados na tristeza, no abismo, no vácuo de nossas lembranças e vivências. A vontade é de voltarmos céleres ao passado e revivermos o que nos tiraram e que nos isolaram, restando só saudades e as lembranças que ficaram.

Solidão é uma viagem, sem bagagem, sem destino, sem janelas de esperas. Todos nós, às vezes, nos sentimos sozinhos, isolados do mundo, da vida, dos roteiros do saber se achar, se conhecer, do saber viver. Somos árvores de múltiplos galhos, dos emaranhados, trançados ramos de itinerários díspares, de folhas desencontradas, flores pra todos os lados, mas na consciência de sermos humanos, apesar dos plantares das nossas raízes nos fincarem nos chãos da vida que nos foi dada viver.

Na vida humana que conhecemos, temos que nos ajudar a viver com tudo que aparecer, pois não é nos fechando, nos isolando, que vamos nos salvar. Devemos, sim, sermos âncoras do nosso sobreviver sem sofrer. mas não devemos ignorar que a solidão exista. Ela existe mesmo e temos plena consciência disso. Temos é que pedir ao Altíssimo que nos dê forças, exemplos que possamos seguir sem nos dilacerarmos tanto, em tanto sofrimento.

Nas pedras que estamos a tropeçar, vemos chegar caminhos para nossas esperanças, para nossas tão esperadas janelas, de esperas ansiosas e benéficas...

Que Deus nos ajude a driblar a solidão, dando-nos ânsias de futuras companhias, de tudo que possa nos colocar, de novo, com os pés no chão, esperançosos de vida melhor, que realmente merecemos...

Maria Myriam Freire Peres

Rio de Janeiro, 11 de junho de 2005

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 09/07/2005
Reeditado em 11/07/2005
Código do texto: T32506