Eu há séculos

Eu há séculos, como já há muito me esqueci. Aqui, atordoada, enrolada, conturbada, esfarrapada. Não. Esfarrapada, não. Tonta, sim, mil e uma vezes tonta de mim. Fazia tempo, como tanto tempo fez da última vez. Vez que chorei minhas pernas de tanto andar pra lugar nenhum. E pensei que nunca mais, porque já havia cansado de tantos destroços recolhidos de mim. Então pensei: nunca mais, Uffa!!. Nada, Tudo de novo. E me prendo sempre por onde vê. Me vê? Ah, quem dera. Às vezes sim, de esguelha porque tem medo. Eu rio, sorrio e quero que venha. Não vem, ou vem e eu é que não percebo. Isso tudo um medo. Isso tudo um desconcerto. E todo dia. Quase todos. Só pra não ter saudades dos olhos. Ah, que olhos. Todos os olhos que eu queria em mim, em toda mim, em todos os lados de mim. E? Sei lá. Sei lá como tantas vezes soube sei lá. E tanto tempo e sinto ganas de pular, por sobre, por entre, por meios entremeios todos dele. Pronto, disse. É ele. É ele que me tenho aqui, ocupando pensamentos e ações, escondidas, envergonhadas, quase. E a vontade de ter, me ter. Isso. é exatamente isso, junto e separado. Pra depois. Sei lá. Sei lá porque também canso ou só quero pra dizer que nunca quis. Mas quero e quero todos os dias desde o primeiro, Desde quando ele me soube. Eu não o sabia. Nem o imaginava. Se o soubesse já teria ido, estado como hoje, toda confusa, toda perturbada e rindo pra teia de aranha que insiste em crescer no canto do quarto. O quarto, hoje, pintado de roxo. Só pra lembrar os olhos dele.

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Paula Cury
Enviado por Paula Cury em 07/10/2011
Código do texto: T3262990
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