Tolices

Deita seus olhos sobre o que paira na minha videira; ela conta das intermináveis sobras e dos nobres anseios num piscar de tempo. Sossega seus sonhos nas páginas brancas da minha essência; ela campeia por séculos atrás de perfumes raros.

Há muito norteio os hiatos entre mim e o universo tentando retardar o que me consome, com isso fiz um pacto com a beleza do que resta e a incerteza dos motivos. Aos poucos vai brotando em mim um universo sincronizado, em partículas serenas gotejadas dos meus desejos.

Deita à sombra dos meus sonhos um tantinho da sua alegria e eu amanheço pronta. Ainda que você traga amores vivos na bagagem dos seus olhos pálidos, amontoarei espaços na borda da sua insensatez. Não hei de culpar o perfume dos ventos, nem dosar mimos que sempre foram seus. Deixo vivos sonhos não vividos, amargo solidões que não vivi tanto quanto abuso a liberdade doida de voar quando desamparada do mundo.

Sou a mesma desde a unidade da alma ao espírito tragado pela eternidade de mim, a mesma fonte de águas voluptuosas, a mesma terra adubada de sonhos loucos, a mesma carne malsã. Sou a vida pulsando entre espumas e canhões, entre ensaios e receios, entre um dia cinza e uma noite clara.

Dê-me acordes doces e liras belas; abraçarei as luzes do infinito e me terás eternamente majestosa em alguma constelação.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 29/12/2006
Código do texto: T331515
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