Trilhos sem direção

Guarde esse meu sorriso atrevido...Deixe registrado como lembrança, para se lembrar dessa eterna criança, que dia a dia se cansa dessa luta desigual...dessa falta de ideal...

Guarde esse sorriso que você já conhece...pouco a pouco ele esmorece...ou falsamente aparece...como fachada bem vestida...

Se o egoísmo dessa chama...se alastra por esse chão, se queima como fogueira da Santa Inquisição...minhas tralhas cabem numa pequena mochila...e os meus pés andarilhos...certamente criará calos...

Há muitos trilhos nesse chão...nenhum deles tem direção...são paralelas infinitas...que não tiveram um começo e se perdem de vista...

Há muito esse chão engoliu os trilhos e pistas...deixou picadas abandonadas...há muito estou de frente comigo nesse embate aflito...onde eu só grito e ouço o meu eco...

Pouco sobrou de ar...nessa imensidão que não me abraça...só essa corda que aos poucos meu pescoço enlaça...a trilha se prepara para engolir mais um pouco dessa distância...na mira, o piso reto...a rigidez do concreto...

Sentada nessa cadeira de balanço...embalo o corpo, retesado pelo frio da insatisfação...vendo a alma em leilão, na multidão dos meus afetos...e percorro com os olhos o mundo concreto, que não alcanço com as mãos...

Deixo que escorram, um a um os dias nesse calendário de infâmias, onde a vida

prepara suas armadilhas e tece com primor as distâncias...com olhar sem metas fixas, me assombro com a solidão que campeia esse chão...onde cada um é uma ilha ...vazia...

Não vou pensar na minha ignorância, nem permitir que essa tristeza endureça minhas mãos...antes vou regar, as folhagens murchas e as sementes pequeninas...e em cada florada... vou agradecer a solidão amorosa que manteve as minhas mãos atuantes e serenas...ante a visão magoada...embora apaixonada pelo mundo...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 17/07/2005
Código do texto: T35051
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