POBRE TENÓRIO!

Ah, pigarro!

Deixe o Tenório tomar seu leite!

Ontem, ele bateu as botas e inda não deitou

Sobra catre dele, miúdo e mesquinho, a procurar consolo.

A mortalha abraça o pretérito e os sonhos... ah, os sonhos!

Carregou a vida como forma de inquietude

Mal chegou a sorrir; não exsudou o mel poético

Não imbricou lençóis de pejo

Não inverteu as bases tórridas do medo.

Pobre, Tenório!

Não sorveu o ácido vurmo dos tonéis de baixo

Não se enlameou nos açudes, não contemplou o mar

Nem um dia, nem por uma vida de íngua.

Agora, Marieta

Acompanhe o Tenório ao fim dos tempos

Nele, encontrará uma salva de morteiros

A amasiar com seu esquipático andar.

Foi-se a carruagem, Tenório

Foram as azinhagas que, obscuras, te incitaram

Mas, não fez por merecê-las

Nem a lua, nem a sua rua, nem os intrépidos

Nem o manto, nem a ojeriza, sem a calma.

Agora, cala-te, Tenório

Ouça o marulhar das velhinhas em colméia eterna

Frua dos choros, lamentos, gritos e esculachos

Rime "au" com "inconstitucional" e se vá!

Ninguém chorará por ti, a não ser a vida.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 07/03/2012
Reeditado em 07/03/2012
Código do texto: T3540150
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