POEMA POR LINHAS TORTAS

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.”

in “Poema em linha recta”

(Fernando Pessoa como Álvaro de Campos)

* * *

Eu, que nunca consigo sequer decorar nem uma quadra, por mais melodiosa que seja;

Eu, que nunca sei quem escreveu este ou aquele texto, por muito que ele me diga;

Eu, que chego a confundir autores com personagens e realidade com ficção, com uma absurda e patética simplicidade...

Contudo na vida real, tento olhar sempre o homem comum com a maior das condescendências e nunca encaro os políticos como homens especiais, por mais alto que o seu ego os eleve...

Sim: Não existe mais espaço nas passerelles da vaidade para o desfile de super-heróis que o planeta tem parido mecanicamente e que tanto se enaltecem reciprocamente!

Mas “super” para quê se pelos vistos já nem sequer existem vilões?!...

(No entanto, se for conveniente surgir um qualquer vilão para justificar alguma guerra, logo ele nasce como que por artes mágicas.)

Levando em linha de conta o que os super-heróis apregoam, ninguém promoveu o despesismo, nem a corrupção, nem o desperdício, nem a miséria, nem a fome, nem o desespero das pessoas – tudo não passa de mais uma criação espontânea.

Sim, Fernando Pessoa!...

Foste um visionário e a humanidade caiu clamorosamente no submundo da hipocrisia: Hoje como no teu tempo, continua a não existir quem tenha levado porrada, nem feito atos ridículos.

Além disso, também os meus conhecidos e não conhecidos de hoje são campeões em tudo e mais alguma coisa que se possa imaginar.

E percebendo estas verdades, sinto-me ainda mais sujo e miserável – não porque esteja sem banho ou passe excessivamente mal, mas porque sou mais um na multidão a permitir que estes tais "heróis" continuem a parasitar o desprotegido rebanho e que a minha espada nunca tenha verdadeiramente cortado em linha reta nos fantasmas da consciência.

Mas eu, não sou visionário e muito menos corajoso, daqueles valentes das lendas, que derrotavam a vilania assim que ela pensava sequer em colocar a cabeça fora do covil das piores intenções.

Eu, sou apenas um semeador de palavras envergonhadas, que vai tentando harmonizar umas quantas emoções avulsas que sucumbem a maioria das vezes ainda antes de nascerem.

E o planeta continua cada vez mais assente em linhas tortas, sem que exista alguém julgado e condenado por qualquer vil ação...

Iniciado em 27.02.2012,

Concluído em 15.11.2012.

Henricabilio

Nota: Para melhor entendimento da interação, recomendo a (re)leitura do "Poema em linha recta" de Fernando Pessoa

HENRICABILIO
Enviado por HENRICABILIO em 15/11/2012
Código do texto: T3987755
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