Uma pitada de açafrão
Uma pitada de açafrão, dizia a receita. E eu pensei que aquilo era pouco. Que tal um punhado de açafrão para um coração tão louco? Para uma alma que vive nas extremidades, nos precipícios, a ponto de desabar? Então o açafrão farto era o pára-quedas. O último ingrediente capaz de salvar. E a receita se completa. Fora da medida. Não acontece o mesmo com as amarras desta vida? Quem sabe a medida certa, de pouco conhece as incertezas, os desalentos, as desventuras. E vive na plenitude. E eu aqui, morrendo de inquietude. Esperando por açafrões, ervilhas, quem sabe, escarolas. Porque é mais fácil falar de coisas triviais. A vida vem sem bula, sem contra-indicações, sem receita de bolo. O manual é falho, contém lacunas, falta instrução. Bom seria se na receita viesse a indicação:
“a cada tropeço, uma pitada de açafrão.”