OLIMPIA - 3ª PARTE

A loja do meu irmão,
Hoje, é uma das maiores do bairro,
“Casa Amado” Foi construída,
Na grande Avenida Lobo Júnior,

Móveis, aparelhos eletrônicos,
Geladeira, Outras infinidades sortidas,
Devido ás propagandas,
Era muito conhecida.

Semanas, meses se passando,
Meu irmão raramente pensava,
Efetuar uma visita à vila,
De Santo Antonio de Muqui,
Ele sempre dizia que ás marcas do passado,
Ainda estava em sua mente,
Raros momentos, ainda registrados.

A herança que lhe coube,
Vindo de nosso pai,
Foi toda vendida,
Com o numerário comprou,
Um bom terreno, na ilha do Governador.

Atendi ao pedido, à fazenda retornei,
Os filhos de minha madrasta, todos já casados,
Um deles foi morar no Rio,
Os outros dois próximos á vila,
Quanto a mim; luto, pra esquecer o passado,

Não poderia deixar minha madrasta,
E nem me ficar
Martirizando com o ocorrido,
É difícil, mas esquecerei o meu ex-marido.

Quanto a Minervina,
Submetida a uma cirurgia,
Seu médico lhe falou,
Você está de alta,
Pode ir cuidar de seus afazeres.


13
Estava eu cansada,
Até um pouco isolada,
Fatigada,
Necessitava um pouco de descanso,
Fui recomendada sair da solidão,
Comecei então freqüentar salão de reuniões,
Bailes, grito de carnaval e festas da cidade e dos distritos,
Houve até rapazes que me cortejava,
Em favor dos meus princípios,
Todos eles eu os descartava,
Fui a muitos lugares,
Mas nada adiantava.

Logo na chegada da vila,
Era a minha casa, subia uma pequena elevação,
Em frente uma alta calçada,
Onde eu passava a maior parte do dia,
E com minha madrasta, à noite eu dormia.


Em meu lar,
Num dos cantos do meu quarto,
Coloquei sob um antigo móvel,
A foto do meu ex-amado.


Morar na vila, ele continua,
Em companhia da outra,
Pra mim era um suplicio,
Quando ás vezes eu a via.

Algumas pessoas já começavam a comentar,
Que a vivencia dos dois,
Já não eram flores,
Embora ele o amasse,
Quanto a ela,
Só a minha herança importava.

Não deu outra coisa,
Instigado pela mulher,
Numa ação divorcial,
José contra mim entrou.
14
Afirmei ao Senhor Doutor,
Faça cumprir a justiça,
Se meu ex-marido tem direito,
Dei-lhe o que lhe couber.

Dividimos tudo...
As casas, terras, animais, aves,
Lavouras, até os suínos,
Ele irá recomeçar nova vida,
Enquanto a minha continuaria.

Após repartido os bens,
Ele mudou-se para Santíssimo,
Campo Grande, Rio de Janeiro,
A outra, eu lhe peço,
Cuide bem de meu ex-companheiro!

O melhor remédio para as ferida da desilusão,
É o tempo.
Infelizmente a minha até agora
Não se cauterizou.

Como vou esquecê-lo?
Se, achei nele,
Meu pai,
Meu confessor, meu amigo,
Meu esposo, meu amante,
Que ao beijar-me com seus beijos,
Mesmo sendo traídos,
Acalentava meus desejos,
Ao introduzir-me ao nosso aposento,
Suspirava aos meus ouvidos,
Oxigenava meus pensamentos,
Ao pegar-me de mansinho,
Amenizava o sofrimento,
Em mim jorrava o seu bálsamo,
Adormecia pelos belos momentos,
Apascentava meu espírito desesperado,
Como eram ricos esses doces encontros,
Legalizados e não roubados,
Protegidos com o liquido da unção perfumado,

15
Anos e mais anos,
Corria o passado,
Mas sempre procurava noticias,
Daquele homem,
Que foi meu ex-amado.

Soube que á amante,
Infernizava sua vida,
Mostrava uma mulher,
Egoísta, fútil e vaidosa,
Sua preocupação maior,
Enriquecer o seu guarda-roupa,
Tornou-se fria e mentirosa,
Arquitetava planos dramaturgicos,
Numa gastança desenfreada,
Ele, não tinha mais vez!
E não opinava em nada.

Até uma história de gravidez foi inventada,
Deus ouviu suas orações José, Disse a outra; e continuou:
Custou um pouco de tempo, mas você vai ser papai,
Com medo de haver uma separação,
José não tinha tempo pra mais nada,
Paparicava a sua amada e até aquele homem,
Concubinato de sua empregada,
E assim nascera o fruto,
Para José, já era explicado,
Por isso abraçava o bastardo amado.

O tempo e a vida continuavam,
Apesar de tudo,
Não vivo só de sofrimento,
Assistirei a um sarol,
No prédio das máquinas,
Um grande termômetro farol,
Pois ela está presente,
No sobe e desce da vila,
Tantos acontecimentos,
Já ocorreram dentro da grande sala,
Que faz parte dos seus compartimentos.


16
Primeiro foi fornecimento da energia,
Aquela antiga turbina,
Conjugada ao gerador,
Moviam-se as maquinas,
De beneficiamentos, arroz e café,


Foi depois do grande incêndio,
Veio o palco da fé,
Celebração das santas missas,
As comemorações,
Da folia de reis, vindo da área branca,
As pastorinhas.
Foi sala de cinema,
Palco teatral,
Sala de aula, e,
Até comitê eleitoral, onde fazia faixas e letreiros,
Do Sr. José Olimpio de Abreu,
Suporte ao grande e riquíssimo folclore local.
A Jaguará, a mula sem cabeça,
E pra formar o trio, ó,
Famoso boi pintadinho,
Que dançava cheio de alegria,
Vinha sendo puxado pelo pai João e a mãe Maria.
O levantamento do mastro do santo padroeiro,
Acompanhado com muita fé,
Abrilhantava esse evento,
A banda, Lira de São José,

Os balões multicores,
Quando subiam, que beleza,
Confeccionados por Totonho,
Casado com a mana Maria,
Também rolava o caxambu, em torno da fogueira,
E muitos assavam batatas doces e os divertiam.
Eram organizados os fogos de artifícios,
Aqueles que da visão de cachoeira,
Também era guardado o pau de sebo,
No qual a turma tentava subir,
E o visitante ás vezes começava a aplaudir.


17
Bem mais tarde, show com o conjunto zip,
Belo grupo musical, Oséas, o galã primeiro,
Olívio, Batista, Pedro Luiz, Zé Carlos e Rivair.
Todos são frutos da terra,
E faziam sucessos aqui.

Ao retornar-me ao passado, me lembro agora,
Uma comissão foi instalada no mês de maio,
Do ano de Mil novecentos e quarenta e oito,
Com o titulo, Espírito-Santense,
Com a finalidade, esses eventos registrar,
Cada qual onde o povo mora,
E os anos se passaram,
Alguns catalogados, e muitos outros ficaram de fora.

Também lembro que participei, em Apiacá,
No dia 26 de agosto de Mil Novecentos e cinqüenta e oito,
Da festa do distrito, que se originou de Mimoso,
Nesse dia, mais famoso para Apiacá,
Que passa a ser cidade.

Outro fato que me Poe a pensar,
Antes um pouco da morte de Getulio,
Todas as terras apossadas,
Do projeto de afloramento,
Das áreas agrícolas,
Junto à corte de Sesmaria,
Segundo aos boatos, grandes áreas,
De Santo Antonio estavam nessa relação,
A fim de sofrer uma grande confiscação.

Acredito que em nosso Município,
Esse confisco não houve,
Pois iria comprometer,
Muita gente importante,
Foi á época que o Espírito Santo,
Deu um salto para o futuro,
Com o aparecimento de faculdade,
Farmácia e odontologia,
Bem como outras entidades,
A fábrica de balas de Henrique Meyerfreund,
Dos chocolates garoto,
E dentro desse contexto, ocupava áreas análogas,
Segundo alguns historiadores,
Foi valido o regime dos posseiros junto ao afloramento.

A história passa e voa,
Cinqüenta e dois anos,
Longe de meu ex-amor,
É triste a solidão,
Mas era indispensável,
Tal separação.

Motivado por falta de trabalho,
Crises na economia,
Eles gastaram tudo,
Esbanjaram tudo que tinham,
Disseram até que o casal,
Meu rival,
Vivem de favores.

Eu continuo na pacata vida,
Minha vila querida,
Meu sobrinho Jorge,
Que me orienta e oferece guia,
Durante todo dia e até ao amanhecer,
Não posso reclamar,
Tenho também minha felicidade,
Do meu jeito de ser,
É só encarar todas as fragilidades.

Mas o grito maior,
Foi a minha consciência,
Fui heróica...
No definir o que seja o amar,
Tendo minha vocação,
De nunca me adulterar.

Fui menina, moça e mulher,
Nunca perdi a sensação,
Da minha idosa vida familiar,
De que um dia, ele pra mim, irá voltar.



19
No ano de Mil novecentos e oitenta e dois,
Triste comemoração,
Cinqüenta e oito anos de separação,
São quinze horas, ou três da tarde,
Estou rente á janela,
Vigiada com olhares da vila curiosos,
Só pra vê a única condução chegar,
Ela vem de Mimoso,
Passa aqui, e rumo a Conceição de Muqui,

O velho caminhão que transporta
Latões de leite e também passageiros,
E esse dia não foi diferente dos outros,
Tem as marcas na soleira da janela,
Das minhas, quantas debruçadas, esperando por ele.
Nesse treze de junho foi diferente,
A vila estava toda em festa,

Vi, atentamente, quando da carroceria daquele caminhão,
Um homem magro, pálido saltou com a ajuda de alguém,
Trazia uma bengala junto á mão,
Parecia estar muito doente. É ele ou não é ele,
Pobre de minha visão acompanha-me as dores,
Das lagrimas e a miopia.

Dirigiu-se em direção a minha casa,
Tendo ajuda de apoio de alguém,
Corri á porta e abri-a,
Fiquei enfrente a ele,
Nós olhamos com olhares míopes,
Estendemos as mãos enrugadas,
Ambas manchadas,
Pelas primaveras da vida, e,
Os momentos desajeitados,
Pelos fatos calejados.

Os olhos afirmaram
Nossas bocas covardes não se comunicaram
Calaram, qual seria a reação do passado?
Tudo está perdoado!
Entre, já está arrumado o seu quarto,
Não repare, o cupim estragou,
Aquele porta-retrato.