Hello my friend



Eu bem posso perder minha poesia para a pomba covardemente apedrejada, caída aqui, no jardim, ainda jazendo. No peito um buraco, a penugem esvoaçada, se isso lhe devolvesse o voo pela manhã, plena, buscando o grão e a vida porque nem mesmo um pássaro merece uma morte tão cruel e banal.

Como eu quis perder minha poesia para ele naqueles dias, preso numa cadeira de rodas, num universo de sondas, soro e espasmos, respirando pela garganta, sem voz para clamar por mais tempo de vida, o olhar vago, esvaído de pensamentos. Ah!  meu irmão, eu daria toda a poesia que tenho e mais minha vida.

Que honra perder minha poesia para os gritos de dor desvalidos, aos renegados sem nenhum  abrigo porque nessas paragens de zonas já mortas, tudo o que é humano lhes foi negado e a integridade lhes foi extirpada, como o coração a fórceps.Seria nobre...tão nobre.

Mas não posso perder minha poesia para a poesia. Não vou joga-la em teus braços para neles ver refletida, a luz de um amor de araque. No way, darling ! Minha doçura é uma cerebração incansável e isso seria a morte do amor em mim amplificado ou seja, a execução com mil tiros da minha própria licença e veia poética contra a parede dura e inexorável da realidade.

...então, resta-me guarda-la no bolso, salvaguardar minha alma, refazer o percurso e saudá-lo sacando a pergunta com bala na agulha:  Hello my friend, can you help me to get out ?




                                          Foto - Capa de um disco de Sophie Hunger