Quando gritam as palavras
Quando gritam as palavras, fica o silêncio enrouquecido numa ânsia de nadas a descoberto das nuvens tingidas em negro escarlate. Instala-se o vazio a espicaçar o tudo de ontem, no muito apressado de corpos em demasias e loucuras. Aprisionada, a música que nos pinta os olhos e apazigua os ouvidos instala-se numa planície selvagem. Nem a voz da hiena rindo escarninha do meu pescoço de gazela obedece à voz do Tempo que parou ali.
Quando choram as palavras desassossegadas e feridas, fazemos parte da imensidão de sentimentos em queda fatal. Nós, neles, deixamos de entrever aquilo que éramos e tudo aquilo que pretendíamos ser. Fecham-se as garras no meu pescoço, arreganham-se os dentes pontiagudos e fecha-se o abraço de morte que nem a poesia é capaz de pintar em cores de Primavera.
Hoje, sou a sereia morta porque a selva se estendeu até ao mar…