O Poço

Chão árido, corpo mole e garganta seca.

Sol carnívoro, escaldante e venenoso.

Ao longe um cajuzeiro, ressecado de saudade,

Onde antes nascia fruta, hoje brota orações...

Rosários e terços, fitas de promessas...

Travessia do dia a dia, enquanto houver chão...

Balde sobre a moleira, pés descalços, poeira...

Vide o poço... Esperanças nômade.

Esmorecem no horizonte tremulado...

À mãe veneram solenemente, Deusa una!

Impenetrável união maternal, criação...

Pequeninos recorrem ao choro, lágrimas secas...

Aos grandes lhes sobram os ombros do irmão...

Dura peleja matutina, quiçá uma noite digna,

Sob as asas da donzela inquebrável.

Jaz o repouso de sua prole acarinhada.

Mas pior seria se ao invés de água,

Fosse amor o que lhes faltasse...

Vifrett
Enviado por Vifrett em 21/09/2013
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