Zero hora e dez minutos

Estranha forma de sonhar. Dormir sem sentir que o sono tomou o corpo. E acordar assustado porque batem na porta para algum atendimento.

A nudez incômoda. Do outro lado,da outra margem, alguém me observa com curiosidade e não sei o que espera.Veio porque queria alguma coisa, além do motivo exposto.

Palavras sobre o filme que eu nem assistia, apesar da televisão ligada, sonífero prescrito à paciente insone, queixando-se de cefaleia; comentário sobre a beleza das misses e um copo de água gelada antes da pressa de sair. Da minha parte,apenas os olhos, os gestos, o silencio : ecos e não palavras ou ações concretas. Devia estar dormindo e certamente ainda durmo, mesmo se pareço desperto. Justamente porque pareço desperto, o sono e o sonho se confundem e a realidade fica fora do quarto.

Levou minha solidão multiplicada pela dele e não me deixou senão a interrupção de um filme paralelo ao que era exibido.E ambos continuaram no escuro, sem som e sem imagem.

Sanatório São Paulo,Salvador,Bahia

03/06/1984

Francisco Zebral
Enviado por Francisco Zebral em 10/11/2013
Reeditado em 11/05/2018
Código do texto: T4564647
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