POST MORTEM
Tinhoso, o astro rei se demorou a rebrotar
- ouço vísceras minhas a refestelar -
Onde está a tão bem vinda botelha?
Castigada sob o sol que escondia o catre.
Por meses, jantei com os abutres, tolos a me devorar
Pobrezinhos!
Ingeriram cicuta como seiva
Elaborada pela labuta dum cerebelo séquido
- não houve tal aurora -
Sinto a pleura amolgar-se no peito
Une-se, enfim, a moldura humana à descompassada paisagem
De carne, sangue, régio pejo e imbricadas joias.
Tem-se a cerca morta por golpes de catana
A esporular sorrisos
- que engasguem tais borbulhas -
O meu 'eu' gasto e onívoro está de volta
- inda de joelhos -
Contudo, com jeito de alcova adornada
A acender o lampião, a tomar a tela e a beber a vida.