O Sangue

Não sei se o que faço é literatura.

Não sei até onde posso chegar.

Sinto o formigamento nas pontas dos dedos,

e ouço a sua voz no meu ouvido

me dizendo que é lindo,

e forte e intenso.

E meu vazio é só meu,

grande e escuro,

com ecos e goteiras,

e negro como as roupas esfarrapadas do pobre vampiro abandonado e

balbuciante,

esquecido em algum beco...

E sua voz não cala, fica me dizendo para continuar.

Escrever sempre,

e sangue pingando dos pulsos,

martelos nas têmporas enlouquecidas e grisalhas

pulsantes do sangue que, mais tarde, vai pelo buraco feito pelos pregos.

Pregos?

Aqueles, que você cravou em mim,

na forma de palavras doces e apaixonadas

e pornografias e amor Polaroid, lembra?

Minha boca na sua, seu sangue na minha mão.

E os bobos ali, rindo com bocas desdentadas, sem caninos afiados,

chorando por suas vidas finitas e ocas,

sem sentido e sem letras legíveis,

sem significado e sem sangue de virgens, tão escassas...

E sua voz me perseguindo, falando comigo em sonhos e delírios orgásticos:

meus dedos são os seus, em mim,

lambidos por minha língua, a sua,

espasmos no meu ventre, vindo de você, tão longe.

Não sei se atingi o alvo.

Não sei se atingi você.

Não sei se é o seu sangue que vejo nos meus olhos, diante do espelho.

Só sei que minhas mãos não param

Obedecem ao seu chamado e só.

Obedecem ao sentido dos seus pelos e da sua pele.

E minha mente trabalha em letras descabidas e desconexas,

numa poesia para te fazer chorar.

Roberta Nunes

30/08/2005

Roberta Nunes
Enviado por Roberta Nunes em 01/09/2005
Código do texto: T46826
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