A vida como é

Levantou feliz como todos os dias

Faxinou como sempre, três casas

Enfrentou ônibus lotado em sono aberto

Chegou em casa com ancas e pernas cansadas

Três filhos bem cuidados

Os banhos foram dados

Preparou-se como nunca

Maquiou-se como deusa

Exagerou o batom vermelho

Soltou os cabelos longos e negros

Filhos a dormir

Em pouco tempo...

Cantava na avenida iluminada em rosas

Sacudida pela bateria

Cheia de graça

Rapidez nos pés

Corpo esbelto e forte

Mandou beijos

Remexeu a fantasia

Balançou com força os seios

Ensaiou e soltou novos passos

Rodopiou em salto alto

Era a escola do coração

Viveu nela desde sempre

A outra. Nunca teve

Não deu sorte com palavras

Já terminava o desfile

Com ele a noite

Os aplausos e a avenida

Também findou o seu espetáculo

A rainha foi deixando os homens com instrumentos para trás

Acabou o tempo

O seu e o nosso

Dias depois

Soube de sua morte

Uma finitude prematura

Logo depois do desfile

Havia visto ela de minha cabine

Soube que descansou para sempre

O coração não agüentou a última batida do surdo

Disseram que caiu no final da linha

Próxima da linha dos tamborins

Ainda fantasiada, maquiada, suada...

Fantasia de realidade pronta

E da vida, tal como é