Guerreiros

ENCOSTADO ao pilar, contorcido e roto, jaz o mendigo. Piolhos cobrem-lhe o corpo remendado e os buracos por tapar mostram, na pele, uma horrível purulência. Encostado ao pilar jaz a massa vagabunda do parasitar enfermo da próspera humanidade cujo aguilhão enfuna, muito levemente, os estandartes dos guerreiros-peões que a guerra chamou.

O mendigo jaz porque quer jazer, jaz porque não faz sentido deixar de jazer. Jazer ou fazer, afinal, que diferença? Os piolhos?!

Multidões incontáveis erguem a cabeça, mas o mendigo esmaga-os: o seu jazer é fazer com que os piolhos rebentem. Afinal, esta guerra é comum às dos outros que, levantando estandartes cantam hinos guerreiros.

Jazer é fazer.

Regina Sardoeira
Enviado por Regina Sardoeira em 08/09/2005
Código do texto: T48699