Onde estás ?
Onde estás Desirée? Onde estás ...?
Talvez enclausurada na tranqüila
segurança de tua racionalidade cartesiana,
herdeira dos estreitos corredores dos gabinetes científicos de la Place Marcelin – Berthelot.
Onde não é razoável que venhas ouvir meu nome nem dizê-lo, minha poesia lavrada nas ruas molhadas, onde não é razoável que escutes o meu nome nem que venhas também a ler meus poemas. Onde não possa ver abrirem–se as rosas de teus beijos nem conduzir-te com mãos alegres entre as árvores tortuosas dos jardins de Espanha ou deitar-te entre as cores sensuais dessas flores
estranhas de meus jardins perdidos
de América do Sul.
Onde estás Desirée? Onde estás ...?
Quiçá, num desses subterrâneos
rios de aço que perfuram os intestinos da terra
e que rastejam apressados sob as ruas
carregando nas entranhas as angustias de Paris.
Meu rosto estampado nas calçadas estreitas,
meus braços abertos pelo Cartier Latin ,
gemendo, sofrendo, querendo não sei o que
mas suponho creio que talvez
uma lâmpada apagada,
uma lamparina sem fogo
ou uma primavera sem cores
que desfolhe-se esquecida
e que escorra pelo Sena
minhas dores e peixes.
Onde estás Desirée? Onde estás ...?
Acredito que onde dorme o silêncio
e esconde-se a escura negrura da noite imensa.
Ou quem sabe se onde caminha a luz que passeia
pelas veredas dos sonhos profundos
das ilhas exóticas que da matriz de tua alma
enfeitiça com o suor de teu corpo
as cores desses versos.
Talvez estejas na vaidade da lua
que empalidece no rosto do céu os sorrisos
das estrelas e as luminosas caudas
dos cometas. Ou quem sabe ,
se onde crescem as palmas e o mar
com sua língua molhada e seus lábios
cativantes balbucia palavras acesas
e beija as areias cheirosas de tuas praias
opulentas. Que acende no sangue de tuas veias
a ternura de teu umbigo e a flor de teu bem querer.
Onde estás Desirée? Onde estás ...?
Espero que sob a plumagem da noite
ou do fogo da lua que com sua tocha acesa
sapateia no baile das palmeiras
o seu frescor exorbitante.
E que com animalesco instinto
e uma inusitada febre, acalenta as lendas e os mitos
de teu sangue polinésio, e cavalga no lombos
de minhas dores a solidão de meus versos.
Que amamenta seus mistérios
nas tetas da noite e anuncia
na poeticidade de tua pele o perfume
açucena de tua púbis, e as carícias cheirosas
de teu ventre que desabrocha encharcado
escorrendo em caramelo
um sabor de urina e céu.
Onde estás Desirée? Onde estás ...?
Oxalá, sob o brilho distante das estrelas
que cintilam ao mirarem o infinito.
Ou entre os uivos do vento
que singram teus olhos oceânicos
repletos de barcos piratas
povoados de corsários e bucaneiros.
Ou quiçá , talvez onde as mãos
geladas do inverno te procurem
e com seus dedos ansiosos
acariciem no calor de tua pele
tuas delicadas curvaturas,
e acarinhem com seus pelos eriçados
os tímidos mamilos de teus seios
e acordem os pedaços de céu
dos teus noturnos segredos.
Onde estás Desirée? Onde estás ...?
Penso que onde as tempestades tropicais
encontram-se com teus olhos oceânicos
e sacodem tuas águas tranqüilas
com esses raios e trovões.
Ou quem sabe se onde um poeta
desvairado, filho de um povo latino
e sensual que da negrura da madrugada
procria no útero da noite
as carnes desses versos
e os corações dessas palavras.
Parece que te conheço faz tempo
e que, como se das asas de um anjo
ou quem sabe de um avião ,
a singela eroticidade de tua pele,
teu hálito ofegante e os teus desejos escondidos,
desabrochem das cadeias de um sonho
a flor de teu delírio e libertem no encanto
das palavras a beleza desses versos.
Onde estás Desirée? Onde estás ...?
Do livro Fogo de Lua & outros poemas.Recife:UBE/PE,2004,p.84.
PS: Todos os meus poemas estão devidamente registrados no escritório de direitos autorais da Fundação Biblioteca Nacional/Rio de Janeiro/Brasil