AUTO-RETRATO DEFINITIVO DESTE INSTANTE

Sei que não vai entender esse emaranhado de fios e nervos e as desconexões necessárias, os arames retorcidos das relações e das emoções, os ácidos ferrosos do sangue; os neurônios, os silêncios eloquentes e, de repente, esse vento polar no verão. Falta água e falta luz ao meu coração.

Os sonhos transversos, os versos desconexos, o caos translúcido, a vontade de chuva, essa música melodiosa e silenciosa, o subjetivo exposto, os encontros e as partidas, rompimentos explícitos, abraços distantes e os corpos se concluindo. Um mundo suspenso no ar. O que me cega é o que me nega.

Cada qual cumpre sua parte, sua arte, seus passos, os descompassos e descaminhos, o rio que caminha pra longe do mar do sem fim. Cada qual para o que foi chamado, sua dor, seu prazer, seu parto, sua partida, idas e voltas, lugar nenhum. Cada instante, cada ciclo cumprido. O fim é perto do começo.

Viver na linha do destino, no prumo ou no mergulho, no salto e completar o que não era pra ser feito. A surpresa é a quebra do traçado do edificado. Caminho na busca, perdendo e ganhando, juntando pedra, trocando suor por dinheiro e vida, amando e desprendendo-se sem nenhum plano. O futuro já começou agora.