a pequena do Tejo


rodopia no jardim
entre pequeninas flores
ramalhete dois-amores
nos seus braços alongados
qual um leque-do-mar
rodopiam acenos de invernos

rodopia assim assim e assim
entre flores de corolas infladas
de sapatinho-de-vênus e nos
corredores do monsenhor-amarelo

rodopia sobre o mate amargo e ao café-das-águas
faz aspirais de folhas e no cercado das flores
seu aroma remoinha campeiro
sem medo do pé-de-vento: velas de moinhos

leva nos braços o cesto entrançado
de palavras frutadas, de sílabas saborosas
e sentidos di-versos-namorados
rodopia rodopia e rodopia
alva e macia, pequena composição em rama
ah aquela menina ! rodopia qual algodão-doce

ela é assim, a menina que sopra letrinhas
gira sua pequenez sob as favas estreitas da carolina
ela gira papel, seda, pluma... marfim

mas: 

a borboleta-do-manacá, a coruja-das-torres,
o pássaro-azul e o tejo-do-campo 
sabem que ela suspira, gira, 
ciranda versos-miniaturas no incolor de si
e possui na menina-dos-olhos um rio
repletos em faluas, de tristeza sem-fim




[imagem: floriana barbu]