Um réquiem para o silêncio

A multidão de palavras ansiosas e barulhentas que me seguiam cegamente, sem mais nem menos calaram-se, ficaram apáticas...

Eu as vejo, eu as sinto, mas elas emudeceram inexoravelmente; perderam o vigor, o brilho; parecem flores murchas num vaso sem graça.

Arrasto por onde ando um silencioso cortejo de verbetes apagados, como se lhes tivessem roubado a alma. Sombras patéticas hoje...as mesmas que percorriam minhas veias, faziam meu coração saltitar quase boca afora.

Acordo e me deito sentindo um vazio dentro do peito. Tenho a garganta entalada de silêncios.

Sou qual um grande quebra-cabeças revirado, faltando pedaços vitais.

Nem céu, nem mar, nem anjos ou gentes conseguem tirar as minhas palavras dessa patética agonia em que permanecem, irritantemente.

Não há calor suficientemente capaz de aquecer minhas poucas emoções e não há sentimentos que potencializem as emoções das minhas rotas palavras a fim de tirá-las dessa caprichosa de mudez.

Não há risos que sacudam o mofo dessa estagnação contínua.

Não, não há estusiasmo que desperte a fúria dos meus dedos em martelar de novo essas tristes palavras, que insistem em definhar num canto qualquer de mim.

Lá no fundo da minh'alma permanece um frio tumular ameaçando ruir sentimentos pela rigidez advinda das palavras engessadas, tristes e amofinadas.

Caminho a passos lentos, coração gelado, arrastando essa pequena multidão de palavras mortas, como se sina fosse carregar palavras fantasmas que não falam mais, mas não se desgarram da minhas entranhas...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 11/06/2007
Código do texto: T522811
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