O SAL DA IDADE (NO ÂMAGO DAS ENTRELINHAS)

Inda não houvesse a centelha

Se tudo tivesse se apagado

Sorriria mais vezes

Por todas as ondas a me violentarem.

Inda não houvesse a memória

Deixaria ao lado do léu o pascigo

Redimir-me-ia.

Não houvesse o silêncio ensurdecedor das tardes

E a apocalíptica frieza das noites

Não conseguisse enxergar silhueta leda ao reflexo

Se os fermentados não tivessem sobrenome, nem carimbo.

Inda sim, lembrar-me-ia

De todas as vezes, das mil gargalhadas

- da boca larga, da alma ressequida -

Dos sorrisos brandos, das invernadas.

Inda não tivesse peito

Não arderia feito cicuta

Não me prestaria ás linhas, tampouco às ojerizas do verso.

Mas, movo ver além

Trás das paredes e das montanhas que o mar não esconde

Na quietude e da paz do submundo, bolhas.

Inda tivesse a tal doença, viveria por anos

Inda não houvesse as horas escorridas de graça

Surpreender-me-ia aos engasgos.

Tudo na vida é escolha, tudo no oceano é saudade.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 13/05/2015
Reeditado em 13/05/2015
Código do texto: T5240542
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