Minha Ilha, Meu Reino e Minha Caverna

Faz tanto tempo que não choro. Me deixe chorar um pouco, Cris. Tenho controlado emoções e sofrimentos. Só que me sinto tão sem caminhos, Cris, tão sem futuro! Eu vou chorar, eu preciso. Estou prendendo há muito tempo. Ouço frases que queria ouvir, vivo situações que me desagradam, magoam. Finjo que sou forte, que não me importo. Até eu mesma acredito nessa farsa que crio. Só que eu estou cansada de fugir de mim, Cris. Permite-me sentir a mágoa e a decepção.

Criei uma parede que me separa do que não quero sentir. O passado inunda meu presente. O medo da entrega. A entrega, Cris, significa insegurança. E eu invento a imagem da mulher forte, fria e calculista. Vou contabilizando perdas e ganhos, quer dizer, anulo as perdas.

Me ponho reclusa em minha ilha. Nela sou poderosa, afinal, sou somente eu, Cris. Lá, eu reino, toda soberana e dona do que decido. Mas sempre chega alguém e eu visto minha roupa cravejada de pedras preciosas, coloco meu manto, meus grandes saltos e minha coroa. Assim, cresço. Olho de cima até mesmo a pessoa mais alta. E a expulso com meu olhar e minha petulância. Afinal, eu mando em mim e decido o que quero sentir e quando sentir. E assim que a pessoa vai embora, me ponho nua, nada de jóias, manto, salto ou coroa. Desço de meu trono e assim, despida de vaidades, vou pra minha caverna. Deito no chão úmido e frio como um feto e choro em silêncio a minha solidão, a vontade de voltar para o útero de minha mãe ou o colo de meu pai.

Eu quero amar de verdade e não consigo. Apedrejo com o olhar, apunhalo as costas, mostro o cedro e faço beijar meu anel real. É como me protejo, Cris. Mostro que viver em minha ilha é o que tenho de mais importante.

Só que eu sou fraca, Cris. Eu preciso tanto amar de verdade, mas eu tenho medo, tenho medo. Amar dói, machuca. E eu não consigo sentir essa dor. Odeio ser fraca. Ser fraca joga água quente nas costas de quem se mostra um perigo para minha realeza. Demonstração de poder. Só que poder não é força, é subterfúgio. Sub, abaixo.

Há pessoas que tentam tirar minha coroa. E eu as afasto. A demonstração do lado frágil é coragem. E eu sou covarde. Se eu demonstrar meus galhos frágeis, vão me quebrar. Como se conserta um galho quebrado? A seiva deixa de passar para alimentar. Mostro fortes galhos, mas a raiz... aquela que se esconde abaixo do solo, é pequena, fraca, mal consegue suportar a árvore frondosa que procuro mostrar a todos.

Minha copa verdejante é o jogo da sensualidade. A sensualidade é o meu poder, a minha seiva. Eu seduzo o tempo todo. Aprendi os segredos do jogo da sedução.

Está escurecendo e o escuro, a noite, não me deixa mostrar as folhas verdejantes que cultivo. Vou pra minha caverna. Me sinto só.

(escrito num domingo de tristeza e solidão, cheia de dúvidas e desamparo - 10/06/2007)

Cris Marco
Enviado por Cris Marco em 14/06/2007
Código do texto: T527271
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