QUALQUER MARGEM

Sonhei que desafiava ventos com asas utópicas. Acordei de repente ao cair no mar e perceber a minha realidade entre margens de horizontes. Solidão de ser também margem. Solidão de não ser entre infinitos. Mergulhei e busquei minhas origens escondidas entre âncoras de barcos já partidos - resgatei os afetos mais íntimos enquanto escoriava a pele na tentativa de me libertar das cicatrizes da queda. Não havia asas. O vôo era um sonho ou um engano, mas deixou ao despertar os traços das pernas trêmulas de medo e de um olhar perdido entre o espanto e a resignação. Atraquei minhas ilusões na realidade, esqueci as asas, destrui os mapas de navegações, as rotas dos ventos, os retratos antigos, as declarações recorrentes... Equilibrei o corpo na orla e percebi a paisagem como a perspectiva de uma nova janela para a alma.