NEM ALEGRE NEM TRISTE: ESTOU POETA
 


Nesta manhã, que não é primaveril, e por falar em primaveril, aqui no Nordeste não funciona essa coisa de estações do ano, só conhecemos tempo quente. Mas, como ia dizendo, nesta manhã não amanheci nem alegre nem triste, só melancólica, sem contudo, sentir-me enquadrada na “epidemia do desencanto”. Também não é uma melancolia segundo a teoria de Hipócrates, que assegurava ser a vida humana regida por quatro humores: a bílis negra, a amarela, o sangue e a pituíta. Do desequilíbrio dessas quatro substâncias advinham as doenças, entre elas a melancolia. A que sinto, vos asseguro é a que se enquadra na teoria de Aristóteles: não passa de uma característica natural do homem, associada ao ethos de artistas e pensadores. Assim, se neste momento, não sou  alegre nem triste: estou poeta. Poeta de versos livres que, se não tem paz neste momento, tampouco busca a guerra, apenas aguarda que a alma vadia, vagando entre a liberdade e a submissão, ancore num corpo seguro.
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 09/10/2015
Reeditado em 09/10/2015
Código do texto: T5409116
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