"O VELHO E O CÃO"

Era claro, era dia, oito e trinta da manhã. O frio entrava pela fresta do quebra vento do automóvel. Os pneus deixavam marcas pelo asfalto ainda úmido da garoa.

Era claro, era dia, dia frio, de corpo e alma.A neblina gélida teimava em não se erguer e deixar o sol aparecer.Passaros ainda tremiam nos fios .

Era claro, era dia, oito e trinta, era frio.

O velho, o cão, se olham e se entendem. O velho sabe que entre eles existe a cúmplicidade . Não existem palavras, mas se falam.O cão abraça o velho com o olhar, saltitante cumprimento. Ao afago sorrateiro se coloca elegante.

O velho senta ao banco de uma praça solitária. O cão deita ao lado do banco. Os dois contemplam seu tempo . Veem o mundo passar sobre pernas e rodas. O turbilhão de almas no eterno labirinto a buscar, o que já nem se sabe mais o que e o por que.

O cão adormece com as patas sobre o focinho.

O velho se levanta e se afasta . Como quem deixa um amigo prometendo voltar .

O cigarro acabou, sigo o meu caminho .

Quem sabe amanhã??

Era claro, era dia, oito e trinta, era frio.

Sergio Cortes
Enviado por Sergio Cortes em 28/09/2005
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