O Jardim Imperial (completo)

I

Você já ouviu falar na terra prometida?

O que dizem minhas memórias

É que ela me foi colocada na palma da mão

Por uma certa moça, a qual o rosto elas preferem ocultar.

A chave da porta do paraíso...

É só girar e conferir,

Pois atrás da terceira nuvem à direita

Esconde-se o pergaminho das frases de amanhã

E ao seu lado repousam:

A primeira flor daquela árvore chamada mulher,

E sua primeira mecha de cabelos.

E apenas sei disso pois fui eu quem lá deixei,

Com muito pesar e esperança de esquecer.

Esquecer dessa árvore ingrata que,

Após germinar daquela pequena semente,

Conspurcou toda a pureza de seu ser

Em troca de

Um corredor sem portas nem fechaduras

E de promessas de prazeres visuais.

Agora que saiu do meu jardim

Deixou apenas um buraco no meio do gramado,

Onde acho que nada mais vai germinar.

II

Nem minhas queridas Damas-da-noite à sombra do luar,

Todas aprumadas ao redor de minha casa,

Conseguem expulsar o teu aroma de Não-te-esqueças-de-mim

Que ficou impregnado nos cômodos de minha, agora, triste residência.

Comigo-ninguém-pode repetes para mim em sonho

Toda noite em que acendo um incenso de aroma relaxante na cabiceira de minha cama

Com a esperança de dormir sem te encontrar.

Começo a achar que conseguiste: sinto tua falta.

Margarida disse-me para enterrar-te sob sete palmos,

Já Betúnia aconselhou-me a mandar para ti

Um bouquet de orquídeas colhidas na noite dos namorados

Juntamente com um cartão cor-de-rosas-amarelas

Onde constassem:

Desculpas e um pedido de retorno.

Toda manhã olho através de minha janela e tenho medo de este ano a primavera não chegar.

III

Doce primavera foi aquela, em que tudo estava em seu lugar

Os dias tinham mais vida e até o sol parecia, melhor, brilhar.

Mas passaram-se os meses e com eles o verão,

E aqui estou eu agora num misto de inverno e de outono,

Pois os dias são frios e sós,

Enquanto que as folhas e as flores que ao meu jardim enfeitavam,

Caíram, murcharam ou, simplesmente, foram embora.

Das cores de outrora restou-me apenas o cinza

Que reflete tons metálicos, mecânicos e sem vida.

Aonde foram todos, aonde foi você?!

Será que tudo que eu posso perder vai realmente me abandonar..?!

Apenas a solidão me faz companhia,

Por que até mesmo o tempo não se cansa de ir embora,

Sempre se afastando, rindo de mim

Com seu maldito ''tic-tac'' incessante.

Mas esse sou apenas eu, sozinho,

Pois bate em mim sempre aquela mesma melancolia,

A tristeza de ter a plena consciência da total inutilidade de tudo que se faz, pois,

Por mais que se mate o tempo é ele quem nos enterra.

IV

Mas quem sabe ainda haja esperança...

Quem sabe se aquela mesma árvore

Aquela, com sua linda copa vermelha e seus delicados traços que delineam seu formato majestoso e peculiar,

Quem sabe se ela for sensível o suficiente para perceber sua insensatez,

E quem sabe se chegar à ela a luz da sobrepujância do orgulho,

A luz do arrependimento;

Quem sabe ela volte para aquele velho jardim florido,

Com suas Rosas, Lírios, Jasmins, Bromélias entre outras tantas velhas amigas;

Quem sabe ela volte para aquele seu lugar, ao lado do canteiro das violetas;

Quem sabe ela volte e traga consigo a primavera,

Instalando-se:

Do lado direito

Da janela esquerda

Do primeiro quarto

Da casa de seu jardineiro:

O Acaso.

Gravor di Saint Danielt
Enviado por Gravor di Saint Danielt em 06/07/2007
Reeditado em 06/06/2008
Código do texto: T554982