Frio lá fora.
O espelho me denuncia.
Noite pesada.
Tomo meu banho. Água quentinha.
No quarto o homem dorme esparramado.
Visto agasalho de ginástica,
Estico os cabelos, rabo de cavalo.
Um copo de suco de laranja,
Dois goles de café,
Uma barra de cereais.
Monto na bicicleta,
Saio no domingo
Pedalar no parque,
Bumbum empinado, cabelos ao vento.
Olhares gulosos,
Carinho no ego.
Alongamento nas barras.
Almoço com mamãe
O moço continua esparramado.
Deixar bilhete.
Prover perfume,
Flores para redimir ausência.
Caipirinha, cerveja,
Azeitonas, queijo, salaminho.
Maionese caseira,
Galinha assada; meus irmãos.
Macarronada; meus sobrinhos.
Farofa; meus cunhados..
Papai, e seu carinho, nada abala.
A manhã de domingo.
Sorridente, desfruta chorinhos e poesia..
.
Regressar, adubar relação.
Voltar e resgatar o romance.
Quarto embrulhado em gases,
Suor de vinhos, cervejas e safadezas.
Jornais de domingo espalhados pela casa.
Futebol na televisão.
Olhar de cachorro vira-latas
Que tal um cinema meu bem?
Resignação.
É pode ser...
Outro banho quente.
Refazer a maquiagem.
Refazer a ilusão.
O coração palpita,
O ventre aquece,
Os seios empinam.
Conselhos de revista feminina.
O vinho absolve transgressões!
Mais tarde talvez, porque não?
Deixar-me em água aquecida,
Investigar a alma,
Desvendar o ser
Que não sei,
Que não sou,
Que não sei se quero.
Preciso.
Discussão no estacionamento.
Cinema gelado.
Pipoca e dramas alheios.
Cartão de crédito
Vantagem para viajar à Islândia.
Jantar pizza com vinho tinto.
Música de fim de festa.
Garçom irritado pela fadiga.
Ruas desertas luzes passando
Silencio cúmplice.
Furar sinal fechado.
Apatia, sonolência.
Pista molhada.
Sentir-se linda, cheirosa,
Esposa, mulher.
A maquiagem cobra as horas extras.
O espelho chora sem razão.
Ele não percebe.
Seu time ganhou, quatro a zero.
Os lençóis e a penumbra...
Ui..., Ui..., Ui..., Que delícia.....
Boa noite meu gatinho...
Sobrevivi ao domingo.
Tragédia anunciada.
Faltam dois minutos,
Para a segunda feira.
Até amanhã.