ACRÓSTICO

M orena, feroz, leoa: as quatro moças se atam em nó

A ltiva me olha de cima a baixo

R epara as unhas, as dobras, os lados, sem dó

I nteligência mordaz,não se esquece dos sapatos, (malditos)

L eva a mão à boca, num gesto inesperado: trêmula, aguardo

I mponente, ela se ri do meu desmazelo

A rainha não desce ao nível dos mortais:(magestade de gêlo)

F inge que não vê, bela leoa ardilosa, seus saltos vermelhos

R emói a sua dor, muitas vezes, à noite e só

A queles olhos de menina bem abertos, desconfiados,

N ão esqueceram que você a magoou

C om os mesmos olhos, vai lhe devolver a mágoa

O s olhos dela lhe dirão verdades que você não suportará

D elicadamente, a menina vai engendrá-la na rede que fez

E a sua rede é construída com minúncia e fios fortes

F ico olhando esta bomba nuclear de metro emeio de altura

A li deitada me parece tão pequena,balançando os pezinhos

R esmunga desajeitada quando descobre que está errada

I mponente me olha como se nada houvesse acontecido

A rrebita o nariz e sai de mansinho: a coroa pertence à rai-

-nha, não havia me esquecido

B ondade não lhe falta, sutileza muito menos

E namorada do Murillo,um menino que ela proclamou rei

C onvicta, respeita com têmpera o homem que escolheu

H á momentos em que desconhece sua própria fôrça

A mulher que ela é fez a mulher que sou

R econhecemos assustadas o vínculo irrefutável

A luz bate no espelho e mostra nossos olhos tão iguais

(Márcia Bechara)

Tentando dar ordem a inúmeros papéis, muito espantada encontrei este ACRÓSTICO feito por minha filha aos quatorze anos. Agora que ela já é respeitada jornalista, atriz fazendo Pós Graduação na USP, livros publicados, tão amiga quanto filha, estou a revirar na cabeça como seria um acróstico atual, e me esbaldo de rir, não perdendo a oportunidade de com muito orgulho publicá-lo aqui.

(Marília Bechara)

Marília Bechara
Enviado por Marília Bechara em 06/10/2005
Código do texto: T57367